top of page

A Arábia Saudita quer mesmo o ténis e convenceu Nadal, Djokovic, Alcaraz e outros dois vencedores de Grand Slams a irem lá jogar a brincar

DIOGO POMBO

O torneio de exibição chama-se 6 King Slams, só um tenista entre a meia dúzia não ganhou (para já) um major e será mais uma investida dos milhões da Arábia Saudita no desporto mundial. Djokovic, Nadal, Alcaraz, Medvedev, Sinner e Ruge lá irão em outubro, a meio do calendário competitivo da ATP. Depois do golfe, o ténis está a experimentar a força do dinheiro saudita


O Pai Natal ainda refazia as malas e a compor a trouxa, a sua festividade celebrara-se há um mero par de dias e a Arábia Saudita já montara a sua pompa num pavilhão repleto de gente, luzes néon e efeitos especiais. A 27 de dezembro, em Riade, um court de ténis iluminou-se para receber Novak Djokovic e Carlos Alcaraz, jogadores com uma via láctea a separá-los no número de Grand Slams conquistados (24 para dois) mas vizinhos próximos em popularidade.

A troco de uns previsíveis e generosos milhões, o sérvio e o espanhol aceitaram jogar uma partida de exibição no final das suas pré-temporadas, antes de seguirem para a Austrália e arrancarem as suas épocas a doer. Mais do que a partida, ganha por Djokovic, a reunião das estrelas do ténis mostrou como a Arábia Saudita, criticada por todos os lados devido ao seu registo em direitos humanos e das mulheres, abria mais uma asa para o desporto. Tanto gostou do ténis que irá fazê-lo outra vez este ano.

Em outubro, Riade vai ser anfitriã de mais um torneio, este chamado “6 Kings Slams”, que apontará ainda mais para o céu do que o predecessor apesar do seu nome fazer prever uma consonância que não acontece: Holger Rune, para já, é a única das presenças confirmadas sem um troféu do Grand Slam a brilhar lá por casa. Todos os restantes têm pelo menos um - Novak Djokovic (24), Rafael Nadal (22) Carlos Alcaraz (dois), Daniil Medvedev (um) e Jannik Sinner (um).


As datas específicas e o formato da prova não foram anunciados. Nem os valores envolvidos, que dispensam tiques de genialidade para se presumir o avultado dinheiro que a Autoridade Geral de Entretenimento do reino saudita teve de investir para seduzir a meia dúzia de tenistas.

Em outubro, o calendário da ATP tem sete competições agendadas, com o mês a ser iniciado e encerrado com um torneio do Masters 1000 - o de Shanghai a abrir e o de Paris a fechar. É seguro assumir que os seis jogadores visados quererão estar nessas provas, as mais importantes do ténis a seguir aos mais desejados Grand Slams. Mediante os pontos que cada um tenha a defender nos torneios previstos para esse mês, os tenistas vão gerir do que vale a pena abdicar em prol de rechearem a carteira.

O nome de Rafael Nadal ser um dos que surgirá no torneio é simbólico. O espanhol esteve praticamente um ano sem jogar, curou-se de um problema na anca e regressou em janeiro, mas uma tropelia do corpo tirou-o do Open da Austrália. Quando o primeiro major da época começou, o tenista, de 37 anos, anunciou uma nova parceria com a Arábia Saudita para ser embaixador do ténis do país, promovendo-o num acordo que também prevê a criação de uma academia com o seu nome na nação do Médio Oriente.


O acenar do reino da Arábia Saudita ao ténis não deverá ficar por este torneio. O “The Athletic” escreve que a ATP e a WTA deverão em breve anunciar a venda dos direitos de naming dos circuitos masculino e feminino ao Fundo de Investimento Público do país. É o mesmo aglomerado de dinheiro que recheou os quatro principais clubes da liga de futebol saudita para que pudessem apostar ainda mais na contratação de estrelas da modalidade, no último ano.

Para já, nunca houve indícios de país querer agitar as águas do ténis como o fez com o golfe, onde inventou um circuito autónomo e independente, para o qual levou vários jogadores populares a troco de muito dinheiro. Essa competição, batizada de LIV, decorreu em paralelo com o PGA Tour, pôs jogadores a criticarem-se mutuamente na praça pública e inundou o golfe com uma disputa durante cerca de dois anos. Em junho de 2023, os três principais circuitos da modalidade anunciaram um acordo de fusão para acabarem com essas turras.

Mais tarde, dois dirigentes do PGA Tour foram chamados ao Congresso dos EUA, país sede da competição. Na audiência, admitiram que esse contrato assinado acabou por ser uma forma de contrariar um receio: “O LIV teria continuado a recrutar jogadores e a colocar o nosso tour em perigo (…) ter-se-iam tornado os líderes do golfe profissional. “Eles têm um horizonte e um dinheiro ilimitados. Não é uma questão de o produto ser melhor, é simplesmente que têm muito mais dinheiro e isso mexe com as pessoas.” O ténis parece estar agora a experimentar a força desse dinheiro.





bottom of page